H. Z. Wendell

Diferentes estudos em Psicologia e Antropologia já apontaram que a matéria-prima do mito e do inconsciente coletivo são os arquétipos – estes últimos são dois dos mais conhecidos conceitos psicológicos desenvolvidos pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Ou seja, os mitos e o inconsciente coletivo possuem algo em comum, o arquétipo, elemento localizado na mente entre o instinto e a razão com os quais todo ser humano vem ao mundo carregado. Em outros termos, nosso cérebro não nasce com se fosse uma página em branco, já vem com alguns “mapas” para guiar nosso comportamento.

Para mim, o arquétipo é a unidade básica do mito. Em muitas pesquisas qualitativas que fiz na vida sempre ouvi dos consumidores que as narrativas míticas são atraentes, magnéticas, mágicas, emocionantes, que apontam para algo maior, grandioso. Jung definiu tudo isso numa palavra: numinosidade. Para ele, o mito é “numinoso”, que pode ser interpretado como algo “epifânico e mágico” ao mesmo tempo.

O arquétipo faz parte de um sistema cultural – o sistema mítico (conceituado por mim em minha tese em 2011 e atualizado em meu livro em 2013 – e compõem com o ritual, o tempo, a magia e a narrativa (o suporte da fala mítica) um conjunto estratégico para continuar circulando na cultura. O mito é um tipo de “meme”, isto é, um gene cultural na visão de Dawkins.

Nas minhas consultorias, eu já aplicava o conceito de Mitologia de Marca, que era justamente utilizar a favor do branding o sistema mítico que traz uma carga de emoções, conexões, simbolismos que dizem algo para o consumidor. Algo maior, que vai além do produto e da marca e cria fidelidade.

Este ano, ingresso em minha pesquisa de pos-doutoramento e pela primeira vez no mundo (sim, é isso mesmo, uma pesquisa realmente inédita!) vou realizar testes neurocientíficos do mito, conhecer de fato quais são seus efeitos no cérebro humano. Apenas quero verificar se aquilo que eu já sabia na prática acontece de fato: a narrativa mítica aplicada ao storytelling de uma marca gera emoção, memória, sinapses com muita dopamina e ocitocina.

Apresentei esse conceito, ainda nos primeiros passos da investigação, no curso de Neuromarketing do Instituto Brasileiro de Neuromarketing e Neuroeconomia que aconteceu ontem, dia 15 de fevereiro, em Curitiba. Pela receptividade do público já entendi que estou no caminho certo.

Assim, finalizo dizendo que Neuromitologia do Consumo é a gestão do sistema mítico de uma marca operando estrategicamente com os conhecimentos da neurociência.

E que venha a pesquisa acadêmica para fazermos diferença no mercado e para a vida das pessoas!